Estudos sociolinguísticos (Labov 1972) têm se debruçado, em sua maioria, sobre a análise de padrões de variação da fala de membros “prototípicos” de suas comunidades, enquanto a fala de migrantes geralmente não é considerada para a obtenção de amostras (salvo raras exceções, p.ex., Bortoni-Ricardo 1985). Entretanto, tendo em vista a ampla mobilidade interna no território brasileiro, sobretudo a migração rural-urbana e urbana-urbana desde meados do século XX (Oliveira 2011), e que a população das cidades paulistas abarca considerável proporção de migrantes (IPEA 2011), convém questionar até que o ponto o contato dialetal pode influenciar a fala tanto de migrantes quanto de membros da comunidade anfitriã. Nesse sentido, esta comunicação tem o objetivo de reportar resultados do Projeto “Processos de Acomodação Dialetal”, que analisa padrões sociolinguísticos da fala de migrantes alagoanos e paraibanos que residem nas cidades de São Paulo e Campinas. A primeira fase do projeto analisou uma amostra composta por gravações com 32 migrantes, estratificadas de acordo com seu sexo, faixa etária e escolaridade, cujos falantes também apresentavam variação quanto à idade de migração, tempo de residência na nova comunidade e origem rural/urbana. A partir dela se analisaram cinco variáveis sociolinguísticas, de natureza fonológica e morfossintática, que diferenciam regiões dialetais brasileiras na divisão Norte-Sul (Nascentes 1922) e no contínuo rural-urbano (Scherre 2008, Bortoni-Ricardo 1985): (i) concordância nominal (os meninos, os menino); (ii) negação sentencial (não vi, não vi não, vi não); (iii) /r/ em coda silábica (tepe, retroflexo, velar, glotal); (iv) oclusivas dentais /t, d/ antes de i; e (v) vogais médias pretônicas /e/ e /o/ (quanto à altura). Tal análise teve o intuito de avaliar quais variáveis sociais se correlacionam com padrões de variação dos migrantes. Da constatação do forte condicionamento da idade de migração para a aquisição de variantes paulistas das variáveis fonológicas (mas não de variáveis morfossintáticas), e de resultados pouco consistentes quanto ao tempo de residência, a segunda fase do projeto analisa uma nova amostra da fala de 40 migrantes alagoanos e paraibanos, agora estratificados quanto a seu sexo, idade de migração (antes ou depois dos 18 anos) e tempo de residência (menos ou mais de 10 anos). A análise visa a desembaraçar o papel dessas variáveis na aquisição de traços paulistas pelos migrantes nordestinos e contribuir para uma descrição mais fiel dos padrões linguísticos no estado de São Paulo.